terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A guerra das árvores



ALTO VERÃO NO SERTÃOZINHO. As árvores na beira dos barrancos tombam sobre os caminhos, de tanto que se debruçam para abraçar o sol. E é de dar dó ver um gigante daqueles prematuramente atravessado no meio da trilha, derrubado por sua cupidez por uma estrelinha distante, e absolutamente indiferente à sua sorte, ao seu amor, à sua paixão. 
   Quem as vê assim, quase imóveis, levada pela brisa vespertina, há de pensar que são criaturas dóceis, sábias e inertes, mas a verdade é que o negócio das árvores é uma concorrência feroz, suja e desleal em busca de um melhor lugar ao sol. Elas se empurram, se enroscam, se engalfinham, se acotovelam até finalmente derrubarem umas às outras, em um lento embora mortal combate do qual nós, desavisados seres humanos, sequer nos damos conta, porque ocorre em um tempo infinitamente mais lento que o tempo que duram os combates que travamos contra os nossos semelhantes. 
   À primeira vista, é impossível reconhecer aquilo como uma guerra mas se de algum modo pudéssemos acelerar o filme, veríamos um espetáculo terrível de tentáculos monstruosos obstruindo, enforcando e asfixiando os concorrentes em uma luta cruel pela sobrevivência, de modo que seríamos obrigados a reconhecer que a guerra das árvores e real e inexorável. 
   E que a vida tende à morte em toda parte. 

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