sábado, 22 de janeiro de 2011

Casa no campo II


COMO JÁ DISSE NO PRIMEIRO POST  desta série, viver no campo é tudo aquilo que a gente imagina... e uma infinidade de outros coisas que a gente não faz a menor idéia. Tanto para bem quanto para mal.  Em segundo lugar no ranking dos principais perrengues enfrentados por quem decide dar uma de Zé Rodrix e se enfiar em uma casa no meio do mato, estão as pragas e peçonhas com quem temos de compartilhar a paisagem. Enumerá-las uma a uma tornaria este post muito extenso, de modo que me aterei àquelas mais incômodas, destrutivas e perigosas:

MOSQUITO PÓLVORA
Praga microscópica de uma periodicidade irritante, que ataca às 15h em ponto.  Quem não é alérgico sente apenas um comichão na pele, um ligeiro ardor, nas quem é sensível à sua baba fica todo embolotado. Curiosidade: o mosquito-pólvora obedece rigorosamente ao horário de verão e, ao contrário de nós, humanos, que precisamos de alguns dias para nos adaptarmos à novidade, ele imediatamente corrige o horário de seus ataques. Por ser tão chato, tão pontual e tão metódico, há estudiosos que acreditam que a praga deva ser originária da Inglaterra. Mas há controvérsias.

CARRAPATO
Todo mundo conhece carrapato e, alguma vez na vida, já teve de lidar com a criatura, seja ela o carrapato comum ou aquele, menorzinho, pervertido, que aparentemente tem graves desvios psicológicos de natureza sexual. Na roça, porém, com tanto cavalo e boi dando sopa, o negócio de carrapato é mais profissa. Já falei aqui de carrapatos quase do tamanho de sapos, o que não é fábula. Os bichinhos ficam bem grandotes nessa época do ano embora sejam muito mais incômodos no inverno, quando ainda são bem pequeninos, e os chamamos de micuins. Afora o sangue que nos suga, o carrapato ainda é transmissor de uma doença terrível, que pode ser mortal para animais de estimação: a erlichiose.

BERNE
Suplício de cães e gatos, nojento e monstruoso, o berne é uma criatura carnívora invasora de corpos. Obviamente veio do espaço, muito provavelmente do mesmo planeta de onde veio o Alien da famosa série cinematográfica. Não é comum em seres humanos, mas é bom não facilitar.
 
PRAGAS DE FRUTAS CÍTRICAS
Tenho três laranjeiras adultas e um pé de tangerina adolescente e, nos últimos dois anos, lutei contra nada menos do que seis pragas diferentes que atacavam ciclicamente as minhas cítricas: formigas carregadeiras, formigas-pecuaristas, pulgões brancos e pretos, vespas e lagartas. Dessas, as mais interessante são aquela que chamo de formigas-pecuaristas, que instalam pulgões nas folhas mais jovens. Os pulgões sugam a seiva das folhas, que tornam-se atrofiadas e enrugadas. Em compensação, segregam uma seiva doce que é considerado um verdadeiro manjar pelas formigas, que cuidam de seus pulgões como fazendeiros tratam de seu gado leiteiro. Chega a ser comovente o cuidado que têm com suas reses, conduzindo-as a lugar seguro durante as chuvas, evitando que se extraviem, protegendo-as de predadores, etc. E isso também não é fábula.

ARANHA ARMADEIRA
Não é mortal e, em doses moderadas — ou seja: caso você leve poucas picadas — não produz necrose de tecido. Dói um bocado, mas passa logo depois. Costumam entrar em casa em dias muito quentes. Ainda assim, não tenho coragem de matá-las. Prefiro enxotá-las porta afora com um banquinho e um chicote.

JARARACAS
São muito discretas, muito silenciosas, muito low profile, preferindo sair à noite e evitar a companhia de seres humanos. Pero que las hay las hay. Sempre que mando capinar o terreno lá embaixo, perto da porteira, os capiaus matam umas duas ou três bem grandinhas. Muito perigosas para animais domésticos. Neste exato momento, minha gata, a Pipoca, está no veterinário, recebendo soro antiofídico depois de ter sido mordida no focinho. Segundo o veterinário, tem boas chances de sobrevivência, embora o risco de morte não esteja descartado.

E durma-se com um barulho desses! 

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