terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A revanche

INT. RESTAURANTE. DIA

JOSÉ GERALDO MONTEIRO, escritor baiano, 50/55 anos de idade, roliço, parcialmente calvo, vestindo uma bermuda de brim, sandálias de couro e óculos fundo de garrafa chega a uma luxuosa churrascaria carioca. Há um reboliço nas mesas quando os freqüentadores identificam o recém-chegado. José Geraldo é recebido pelo maitre e por dois garçons, que o conduzem a uma mesa reservada. O maitre posiciona-se diante da mesa com um sorriso idiota nos lábios. Um garçom puxa a cadeira enquanto o outro ajeita os talheres sobre a mesa.

GARÇOM
Para beber?

JOSÉ GERALDO
Dois chopes e um steihegger, por favor.

O garçom hesita por um instante mas recebe um olhar fulminante do maitre e desaparece de cena.

MAITRE
Então, como vão as coisas? E o novo livro?

JOSÉ GERALDO
Assando no forno, em fogo brando. Por falar nisso...

MAITRE
A picanha hoje está soberba!

JOSÉ GERALDO
Picanha não. Tem muita gordura e o médico proibiu.

Um garçom aproxima-se com um espeto de linguiças e costelinhas de porco assadas na brasa. José Geraldo finge não ver o garçom servi-lo.

JOSÉ GERALDO
Fico com uma maminha, ao ponto pra mal.

MAITRE
Acompanhamento?

JOSÉ GERALDO
Uma porção de farofa à brasileira bem puxada na manteiga e um punhado de batatas noisettes.

O maitre já vai longe quanto José Geraldo lembra-se de algo.

JOSÉ GERALDO
Ah, sim, ia me esquecendo. E uma saladinha verde, suave, pra acompanhar. Sabe como é... ordens médicas...

O maitre se vai com um sorriso irônico no canto dos lábios enquanto o garçom retorna com as bebidas. Antes que o garçom ponha o segundo chope e o steinhegger sobre a mesa, José Geraldo já secou a primeira tulipa, que deposita sobre a bandeja vazia. O garçom se vai, impressionado. O escritor sorri, divertido com o espanto do novato. José Geraldo sorve o steihegger de um só gole e está a ponto de fazer o mesmo com o outro chope quando uma menina de seus quinze anos de idade se aproxima portanto um livro e uma caneta tinteiro.

MENINA
Você é o famoso escritor José Geraldo Monteiro?

JOSÉ GERALDO
O "famoso" é por sua conta.

José Geraldo toma o livro e a caneta das mãos da menina. Insert de capa de livro: "O choro da borboleta".

JOSÉ GERALDO
Como é o seu nome?

MENINA
Não é pra mim não, é pra minha mãe...

E faz um sinal discreto com a cabeça para uma mesa onde há uma mulher de seus 35/40 anos, acompanhada de outras pessoas da mesma idade. A mulher sorri encabulada. José Geraldo acena.

MENINA
Mas não dá bandeira que meu pai está olhando...

José Geraldo olha para a menina com uma expressão mista de deboche, surpresa e indignação.

JOSÉ GERALDO
E como é o nome de sua mãe?

MENINA
Isadora. E ela pediu pra você escrever assim: "Para minha querida Isadora, pelos bons momentos que..."

JOSÉ GERALDO
Peraí, mocinha. Quem vai dar o autógrafo não sou eu?

MENINA
É.

JOSÉ GERALDO
Pois então deixa que eu sei como se faz esse negócio, tá legal?
José Geraldo rabisca qualquer coisa e devolve o livro à garota, que lhe dá as costas sem agradecer.

JOSÉ GERALDO
Tem gente esquisita nesse mundo...

Nem bem termina a frase, um cangaceiro entra no salão do restaurante. Carrega um arcabuz colonial à tiracolo, o tradicional chapéu de couro em meia-lua, óculos de aro de casco de tartaruga e, por baixo dos óculos, um tapa-olho grosseiro cobrindo a vista esquerda. Tem pentes de bala cruzados no peito, peixeira e garrucha à cintura. Calça alpercatas surradas e está suado, barbado, oleoso. O cangaceiro aproxima-se da mesa de José Geraldo. José Geraldo olha para o recém-chegado, estupefacto. Em seguida, olha em torno, para os outros freqüentadores. Mas ninguém parece impressionado com a aparição absurda.

CANGACEIRO
Por que o susto? Voismicê não me conhece?

O cangaceiro arrasta uma cadeira e senta-se diante de José Geraldo.

CANGACEIRO
Por essa voismicê não esperava, né? Estava aí tão entretido, brincando de faz de conta que nem...

JOSÉ GERALDO
Puxa vida! Você é igualzinho a...

José Geraldo abre um largo sorriso.

JOSÉ GERALDO
Genial! A sua caracterização está magnífica! Exatamente como eu imaginei o Coronel Otacílio de Viva Antônio Conselheiro!

José Geraldo volta a olhar em torno, como se procurasse alguma coisa.

JOSÉ GERALDO
Onde está a câmara? Isso é uma pegadinha né?

CANGACEIRO
Olhe seu moço, que vou contar uma história que talvez seja de sua serventia. Portanto atente bem porque só vou contar uma vez: um dia, em minha mocidade, no sertão do Pajeú, lugar onde eu estava acoitado, procurado pela justiça por conta da morte bem matada do intendente do Crato, estando eu lá, no matão, uma cascavel me deu um bote. Eu mais que depressa peguei a bicha no ar e fiz a maldita morder o próprio rabo. Morreu na minha mão, agonizando a pior e mais peçonhenta das mortes. É assim que trato. É assim que fecho. É assim que eu faço o meu juízo.

José Geraldo se ri da fala barroca e do acentuado sotaque nordestino do cangaceiro.

JOSÉ GERALDO
A idéia é boa. Aliás, é a cara do Coronel Otacílio. Mas não é verdadeira. A cascavel é imune ao próprio veneno.

CANGACEIRO
Isso é o que veremos.

Inesperadamente, o cangaceiro saca a peixeira. José Geraldo se assusta. O cangaceiro sorri e põe-se calmamente a limpar as unhas com a ponta da arma.

CANGACEIRO
Tome tento, seu moço. Tome tento. E considere-se avisado.

JOSÉ GERALDO
Não estou compreendendo...

O cangaceiro encara José Geraldo durante um longo tempo enquanto limpa as unhas. Em seguida levanta-se, volta a embainhar a arma, encara o escritor uma última vez e sai de cena. O garçom se aproxima.

GARÇOM
Outro chope, senhor?

JOSÉ GERALDO
Não, não... de repente perdi a sede e o apetite. Por favor, peça para cancelar o pedido e ponha a despesa na minha conta. José Geraldo levanta-se, mete a mão no bolso, dá uma nota de dez reais ao garçom e se vai.

EXT. ENTRADA DO RESTAURANTE. DIA
Ao sair ao ar livre José Geraldo tem outra surpresa. Em vez da confortável roupa esporte que vestia segundos antes, traja um blazer cinza, camisa social, calças tweed e sofisticados sapatos de couro de crocodilo. José Geraldo atira longe os óculos escuros que subitamente apareceram diante de seus olhos e larga no chão a maleta executiva que subitamente materializou-se em sua mão. José Geraldo procura e encontra os óculos verdadeiros no bolso do blazer. Ele põe os óculos e olha para si mesmo.

JOSÉ GERALDO
Mas que diabos!... Que roupa mais ridícula!

No outro lado da rua, há um automóvel estacionado. No interior do automóvel há duas pessoas: um motorista e um passageiro, acomodado no banco de trás.

MOTORISTA
É ele?

PASSAGEIRO
Sim, é.

O passageiro e o motorista sacam as submetralhadoras e começam a disparar em direção a José Geraldo. Pânico na calçada defronte ao restaurante. As balas destroçam vasos, vidraças e arrancam pedaços do reboco das paredes. Um transeunte é baleado e cai sobre José Geraldo, o que salva o escritor de ser atingido pela última rajada. O carro no outro lado da rua parte cantando os pneus.

Um taxi surge na outra esquina, também cantando os pneus, e pára diante do restaurante. A porta se abre.

MOTORISTA
Venha, rápido!
José Geraldo levanta-se, apavorado, e entra no taxi.

INT. TAXI. DIA
O taxi percorre a Lagoa Rodrigo de Freitas. José Geraldo está no banco traseiro, ofegante, suando em bicas, mão no coração, aparentemente a ponto de ter um infarto.

MOTORISTA
Seguinte: atualmente, você é o grande escritor José Geraldo Monteiro. Mas em outros tempos você também já foi um ativo militante de esquerda, codinome Paulo Maverick, envolvido em seqüestros de embaixadores e grandes empresários, bem como no assassinato de líderes da repressão militar...

José Geraldo olha para o motorista, aparvalhado.

JOSÉ GERALDO
Como é que é?

MOTORISTA
...em 1975, numa fuga espetacular, você deixou o Brasil, asilando-se primeiro no Chile e, depois, na Suécia, onde viveu até ser anistiado, em 1982...

JOSÉ GERALDO
Você deve estar maluco! Eu nunca fui militante de esquerda! Nunca fui exilado político! E só estive no Chile uma vez, como turista, numa estação de esqui! E Paulo Maverick é o nome de um personagem meu!

MOTORISTA
Olha, não tenho nada com isso. Só estou passando o briefing. Quem escolhe é o homem lá em cima...

José Geraldo olha para o rosto do motorista através do espelho retrovisor.

JOSÉ GERALDO
Espere aí... Eu estou reconhecendo você... Você não é aquele motorista de taxi que levou a protagonista até o aeroporto do Galeão no epílogo de meu último livro?

O motorista sorri.

MOTORISTA
Sim. Mas também já fui o camareiro de Um trem para Munique, o cocheiro de O Espelho de prata, o copeiro de madame Freitas, em Brilhantes... toda vez que você precisa de um serviçal inexpressivo, lá estou eu.

José Geraldo sorri, divertido com o absurdo de tudo aquilo.

MOTORISTA
Por exemplo: se eu o deixar naquele hotel mais adiante, quem vai recebê-lo na portaria serei eu mesmo, só que vestido de porteiro.

O motorista vira o espelho retrovisor de modo a poder ver melhor o escritor.

MOTORISTA
Seus personagens secundários não tem profundidade. São planos, unidimensionais, sem vida, cor ou expressão. Isso torna a narrativa maçante...

José Geraldo fica indignado.

JOSÉ GERALDO
E o que sugere que eu faça, meu prezado co-coadjuvante de passagens curtas?

MOTORISTA
Dê mais falas para a gente. Detenha-se um pouco mais na nossa descrição. Nos torne mais humanos. Evite certas aberrações. Veja só: olhe bem para mim. O que está faltando?
José Geraldo debruça-se sobre o banco da frente e descobre que a metade inferior do corpo do motorista não existe.

JOSÉ GERALDO
Cara, deve ser muito difícil dirigir com um problema desses...

MOTORISTA
Isso não é nada perto do que a gente atura todo o dia... a propósito: para onde quer ir?

JOSÉ GERALDO
Me leva para casa. Acho que chega de maluquice por hoje.

MOTORISTA
O senhor é quem manda.

José Geraldo emite um profundo suspiro de alívio.

JOSÉ GERALDO
Ainda bem...

EXT. FRENTE DA CASA DE JOSÉ GERALDO. DIA

Uma multidão aglomera-se diante da casa. Há uma ambulância, um carro do corpo de bombeiro e diversas viaturas policiais. O taxi deixa José Geraldo na calçada oposta e se vai.

JOSÉ GERALDO
Mas o que está acontecendo por aqui...

Neste momento, duas macas deixam a casa. Sobre cada uma delas há um cadáver embrulhado em saco plástico. Um policial traz em mãos um terceiro saco plástico, menor que os outros dois, dentro do qual também se percebe um pequeno volume. Uma equipe de tevê grava um informe ao vivo não muito longe de onde está José Geraldo.

REPÓRTER
...diante da casa do escritor José Geraldo Monteiro. Neste momento os funcionários do IML estão deixando o local do crime trazendo os corpos de Marli Monteiro, de sua filha Arlene Monteiro e do cão da família, Milu, brutalmente assassinados a tiros de escopeta...

JOSÉ GERALDO
Pô.. até o cachorro!...

José Geraldo é identificado pela multidão, que forma um círculo ao seu redor. Flashes e refletores o iluminam. Todos o olham com ódio e reprovação. Policiais rompem o cerco.

DETETIVE
Senhor José Geraldo Monteiro?

JOSÉ GERALDO
Sim?...

DETETIVE
O senhor está preso pelo assassinato de sua mulher, de sua filha e de seu cão de estimação.

JOSÉ GERALDO
Mas...

José Geraldo é algemado e levado com brutalidade a um carro de polícia. A imprensa cerca o veículo.

DIVERSOS REPÓRTERES
É verdade que sua mulher o traía?
Por que matou também a menina?
Ela não era sua filha?
Por que não se suicidou em seguida?
O crime foi premeditado?
Onde escondeu a arma do crime?

A viatura parte com a sirene ligada.

INT. CADEIA. NOITE
José Geraldo é trancado numa cela ás escuras.

JOSÉ GERALDO
Agora mais essa...

José Geraldo ensaia  alguns passos em seu novo hábitat. Alguém tosse ao fundo. José Geraldo volta-se bruscamente na direção donde veio o som.

JOSÉ GERALDO
Quem esta aí?

Uma sombra emerge do fundo da cela e posiciona-se sob a luz do luar que atravessa as grades. É um jovem, pinta de anti-herói de filme noir, casaco de couro preto, camiseta branca, jeans e barba por fazer.

JOSÉ GERALDO
Paulo Maverick!

PAULO MAVERICK
Em carne e osso.

JOSÉ GERALDO
Você, que é meu personagem favorito, poderia me explicar o que diabos está acontecendo afinal de contas?

PAULO MAVERICK
Como lhe disse o coronel Otacílio, hoje de manhã no restaurante, estamos lhe dando uma prova de seu próprio veneno.

JOSÉ GERALDO
Mas eu não compreendo... e logo você, Paulo, um personagem a quem eu tanto admiro! O que fiz de tão terrível? Desde a hora do almoço até agora, já fui ameaçado com uma peixeira, sofri um atentado a bala, fui preso injustamente pelo assassinato de minha mulher e filha. Até o cachorro, coitado, o pobre Milu, um poodle inofensivo, entrou de gaiato na história...

PAULO MAVERICK
Não lhe parece familiar? Tirando a peixeira, não é exatamente isso o que acontece comigo no primeiro capítulo de Os fantasmas da alvorada?

JOSÉ GERALDO
Sim, mas...

PAULO MAVERICK
Toda vez que um personagem está se aprumando na vida ou conseguindo atingir os seus objetivos o que você faz? Taca-lhe uma desgraça em cima. Toda vez que a trama está ficando xoxa, lá vem você com um tremenda tragédia. Quem se dana? Nós! E tudo isso para que?

JOSÉ GERALDO
Para manter o interesse na trama, ora essa!

PAULO MAVERICK
Exato! Para manter o interesse na trama, de modo a continuar vendendo os seus livros, para poder continuar comendo e bebendo em churrascarias de luxo e atraindo olhares furtivos de senhoras de meia idade... Tudo isso em troca de nossa miséria, de nosso sofrimento, de nossa dor!

Paulo Maverick aproxima-se de José Geraldo.

PAULO MAVERICK
Suas mãos, José Geraldo, estão manchadas pelo sangue de personagens inocentes!

José Geraldo senta-se sobre o catre, atônito.

PAULO MAVERICK
Agora, me responda: no que você é diferente do Coronel Otacílio, do Pedro Sepúlveda, do Zé Tomé e de tantos outros vilões criados em seus livros?

JOSÉ GERALDO
Tudo bem, tudo bem. Você tem um bom argumento. E o que acontece em seguida?

PAULO MAVERICK
Amanhã, você será julgado pelos homicídios que não cometeu e será condenado à morte. Antes de ser levado ao cadafalso, porém, será assassinado na cadeia por um colega de cela.

JOSÉ GERALDO
Essa é boa! Aqui no Brasil não tem pena de morte!

PAULO MAVERICK
Agora tem. Nesta história tem. Tudo é possível no reino da ficção, lembra-se?

JOSÉ GERALDO
Tudo não. Há que se manter a verossimilhança... Aliás, esse negócio de eu ser preso hoje e julgado amanhã, convenhamos, é ridículo.

PAULO MAVERICK
Não seja por isso. Durante a nossa convivência aprendi alguns truques de narrativa, veja você...

Paulo Maverick estala os dedos. A cena escurece. Quando volta a clarear, vemos um José Geraldo barbado, cheio de olheiras, vestindo as mesmas roupas com que fora preso, só que agora sujas e esfarrapadas.

LEGENDA 
Dois anos depois...

PAULO MAVERICK
Pronto. Em nome da tal verossimilhança, fizemos um salto no tempo. Estamos, agora, às vésperas de sua execução...

JOSÉ GERALDO
Mas isso não é justo! Eu nem assisti ao meu julgamento!

PAULO MAVERICK
Não perdeu grande coisa. Foi um julgamento muito chato. Você esteve patético tentando provar que não era o perigoso terrorista Paulo Maverick, que Maverick era um personagem seu, etc, etc, etc. Agora, vamos ao grand finale!

Paulo Maverick saca um estoque debaixo da camisa e avança para José Geraldo.

PAULO MAVERICK
Eles pensam que você é Paulo Maverick. Se você morrer, estarei livre da perseguição destes malditos...

JOSÉ GERALDO
Espere um pouco!... e quem são ‘eles’, afinal de contas? Ao que me conste, deixei você numa boa, casado com aquela ninfetinha cucaracha, a Daniela...

PAULO MAVERICK
...que morreu poucos dias depois de terminado o livro porque você não lhe deu argumento para que continuasse viva.

JOSÉ GERALDO
Como é que é?

PAULO MAVERICK
É isso mesmo. Para você, bastava me deixar numa boa com uma garotinha bonitinha, e pronto. Você nada deu a ela além de uma voz suave em um corpo escultural. Daí que, dias depois do fim do livro, ela desapareceu como, aliás, desaparecem a maioria dos seus personagens. Eu mesmo não sei como consegui sobreviver tanto tempo...

JOSÉ GERALDO
Tudo bem, mas responda a minha pergunta: quem são esses caras que o perseguem? Eu o deixei bem, com todos os inimigos mortos e enterrados...

PAULO MAVERICK
Esses são novos desafetos, gente da extrema direita que quer vingar os seus mortos. Você me fez matar dois tenentes-coronéis da OBAN, lembra-se? Agora, os asseclas, filhos e netos deles estão atrás de mim. Mas quem se importa? O livro já acabou mesmo...

JOSÉ GERALDO
Mas se eu vou ser executado daqui a pouco, por que você vai ter o trabalho de me matar na cela, arriscando até mesmo a ser desmascarado como o Paulo Maverick verdadeiro?

PAULO MAVERICK
Não posso facilitar. Afinal, você é autor e pode retomar o pulso da história a qualquer momento. Tenho que ser rápido.

Paulo Maverick aproxima-se de José Geraldo com o estoque em riste.

PAULO MAVERICK
Esteja certo: isto vai doer mais em mim do que em você... papai.

Paulo Maverick golpeia José Geraldo. José Geraldo grita. O sangue jorra.

INT. RESTAURANTE. DIA
José Geraldo desperta gritando, sentado diante da mesa. Em seguida, cai em si e olha em torno, envergonhado. Todos os freqüentadores olham para ele, surpresos. O garçom aparece correndo com um chope.

GARÇOM
Desculpe a demora, senhor! Desculpe a demora! Não precisa ficar nervoso!

José Geraldo respira fundo e aceita o chope.

JOSÉ GERALDO
Obrigado. E pode encerrar o serviço. Ponha na minha conta, por favor...

José Geraldo se levanta, e dá dez reais ao garçom.

GARÇOM
Teve uma boa idéia para um próximo livro, senhor?

JOSÉ GERALDO
Não, nada espetacular.

José Geraldo dá as costas e está para ir embora quando pára e se volta novamente para o garçom.

JOSÉ GERALDO
Em verdade, eu duvido que seja capaz de escrever um livro interessante daqui pra frente. Pensando bem, acho que amanhã mesmo vou me matricular numa escola de música.
José Geraldo se vai.

O garçom balança a cabeça de lado a lado.

GARÇOM
É... tem gente estranha nesse mundo.

O garçom guarda a nota de dez reais no bolso e se encaminha para a cozinha.

FIM

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