Interior do batiscafo Trieste, 1960 |
COMO É BOM SENTAR-SE NO TOPO de uma colina, diante da entrada da barra, e ficar a admirar os iguanodontes preguiçosos refestelados ao longo da linha costeira, chifres emaranhados de algas, carapaças impregnadas de plâncton fluorescente!
Depois, muito depois, já ao crepúsculo da estrela gigante, quando a anã branca estiver bem à prumo no céu, como é bom descer a colina de monociclo a jato, em linha reta, a pique, sem tomar conhecimento da excelente estrada asfaltada que serpenteia ao longo da encosta, pantufas cravejadas de carrapichos, observando a expressão desesperada dos nativos quando cruzamos desabalados à frente de seus lentos e coloridos balibus de passeio!
Como é bom subir a pé uma montanha de mais de vinte quilômetros de altura e, quando todas as extremidades do seu corpo começarem a ficar esverdeadas por causa da altitude, quando a sua capacidade de raciocínio ficar igual à de uma água viva com problemas de retardo, como é bom tentar fazer um comercial para o seu patrocinador, dizendo: “Senhoras e senhores, este relógio... este relógio... perdão, esta bússola...” E daí por diante.
Como é bom descer ao fundo da mais profunda fossa submarina de um oceano de ácido sulfúrico, a bordo de um batiscafo de fibra de titânio com espaço interno igual ao do tambor de uma máquina de lavar roupa de solteiro e, uma vez lá embaixo, a mais de trinta mil metros de profundidade, ser abalroado, mastigado, engolido e cuspido por um monstro abissal — mandíbulas escancaradas, olhos cegos saltados das órbitas, imagem que obviamente não deixou de registrar em todo tipo de mídia para a revista de sua sociedade geográfica nacional.
Como é bom repousar no fundo deste oceano corrosivo durante trinta e duas angustiantes horas, ouvindo o ácido trabalhando no casco — shhhhhhhhhh.... — e, no último instante, quando o que separa você da dissolução química é uma película menos espessa que a casca de um ovo de codorna, ser finalmente descoberto e içado pelas equipes de resgate!
Ah, como é bom!
Como é bom lançar-se na atmosfera turbulenta a bordo de um balão de alto desempenho, e ser projetado a velocidades supersônicas ao longo do equador do planeta! Neste momento, como é bom abrir uma garrafa do bom néctar de Buorni, reserva especial, e rezar para que as provisões de bordo durem até o fim da tempestade. Ao fim de tudo, já vagando em altitudes estratosféricas, quase em órbita, como é bom ver-se subitamente sem combustível para aquecer novamente o balão e deter a queda vertiginosa!
Como é bom, no último instante, descobrir que os sujeitos que bolaram este maldito aparelho ainda tinham uma carta na manga e que gigantescos colchões pneumáticos estão sendo inflados ao redor de sua unidade de sobrevivência para garantir uma aterrissagem senão tranqüila, ao menos segura!
Bonk! Bonk! Bonk! Bonk! Bonk!
Como é bom poder caminhar por esta parte inexplorada do planeta, sem saber o que nos espera mais adiante, pisando a areia cor de ametista — “...resíduos de uma floresta há muito devastada pelo impacto de um cometa”, como nos informa o computador de pulso, este cretino, que ainda não se deu conta da aproximação do bando de pterossauros que projetam sombras fantasmagóricas sobre o chão vitrificado, voando em círculos cada vez mais fechados ao nosso redor.
Como é bom!...
Depois, muito depois, já ao crepúsculo da estrela gigante, quando a anã branca estiver bem à prumo no céu, como é bom descer a colina de monociclo a jato, em linha reta, a pique, sem tomar conhecimento da excelente estrada asfaltada que serpenteia ao longo da encosta, pantufas cravejadas de carrapichos, observando a expressão desesperada dos nativos quando cruzamos desabalados à frente de seus lentos e coloridos balibus de passeio!
Como é bom subir a pé uma montanha de mais de vinte quilômetros de altura e, quando todas as extremidades do seu corpo começarem a ficar esverdeadas por causa da altitude, quando a sua capacidade de raciocínio ficar igual à de uma água viva com problemas de retardo, como é bom tentar fazer um comercial para o seu patrocinador, dizendo: “Senhoras e senhores, este relógio... este relógio... perdão, esta bússola...” E daí por diante.
Como é bom descer ao fundo da mais profunda fossa submarina de um oceano de ácido sulfúrico, a bordo de um batiscafo de fibra de titânio com espaço interno igual ao do tambor de uma máquina de lavar roupa de solteiro e, uma vez lá embaixo, a mais de trinta mil metros de profundidade, ser abalroado, mastigado, engolido e cuspido por um monstro abissal — mandíbulas escancaradas, olhos cegos saltados das órbitas, imagem que obviamente não deixou de registrar em todo tipo de mídia para a revista de sua sociedade geográfica nacional.
Como é bom repousar no fundo deste oceano corrosivo durante trinta e duas angustiantes horas, ouvindo o ácido trabalhando no casco — shhhhhhhhhh.... — e, no último instante, quando o que separa você da dissolução química é uma película menos espessa que a casca de um ovo de codorna, ser finalmente descoberto e içado pelas equipes de resgate!
Ah, como é bom!
Como é bom lançar-se na atmosfera turbulenta a bordo de um balão de alto desempenho, e ser projetado a velocidades supersônicas ao longo do equador do planeta! Neste momento, como é bom abrir uma garrafa do bom néctar de Buorni, reserva especial, e rezar para que as provisões de bordo durem até o fim da tempestade. Ao fim de tudo, já vagando em altitudes estratosféricas, quase em órbita, como é bom ver-se subitamente sem combustível para aquecer novamente o balão e deter a queda vertiginosa!
Como é bom, no último instante, descobrir que os sujeitos que bolaram este maldito aparelho ainda tinham uma carta na manga e que gigantescos colchões pneumáticos estão sendo inflados ao redor de sua unidade de sobrevivência para garantir uma aterrissagem senão tranqüila, ao menos segura!
Bonk! Bonk! Bonk! Bonk! Bonk!
Como é bom poder caminhar por esta parte inexplorada do planeta, sem saber o que nos espera mais adiante, pisando a areia cor de ametista — “...resíduos de uma floresta há muito devastada pelo impacto de um cometa”, como nos informa o computador de pulso, este cretino, que ainda não se deu conta da aproximação do bando de pterossauros que projetam sombras fantasmagóricas sobre o chão vitrificado, voando em círculos cada vez mais fechados ao nosso redor.
Como é bom!...
Da série Crônicas do espaço profundo.
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