sexta-feira, 6 de maio de 2011

O primeiro degrau

















Por Constantine Cavafy
tradução de Alexandre Raposo

O jovem poeta Eumênio
certo dia reclamou com Teócrito:
“Escrevo já há dois anos
e compus apenas um idílio.
É meu único trabalho findo.
Vejo, entristecido, que a escada
da Poesia é alta, muito alta;
e deste primeiro degrau de onde estou sinto que
jamais subirei mais que isso.”
Teócrito replicou: “Palavras como essas
são impróprias e blasfemas.
O simples fato de estar no primeiro degrau
devia deixá-lo feliz e orgulhoso.
Chegar a este ponto não é pouca coisa:
o que fez até agora é algo maravilhoso.
Até mesmo este primeiro degrau
está muito acima do mundo comezinho.
Para alguém pisar neste degrau
tem de ser, por direito,
um membro da Cidade das Idéias.
E é algo raro, pouco comum
ser aceito como cidadão daquela urbe.
Seus conselhos são repletos de legisladores
que nenhum charlatão pode enganar.
Chegar a este ponto não é pouca coisa:
o que fez até agora é algo maravilhoso.”

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