Nature / NASA / Ames / JPL-Caltech / T. Pyle |
O MENSAGEIRO APROXIMAVA-SE DO fim de sua longa jornada. Já não lhe restava dúvida de que os planetas que giravam ao redor daquele sistema binário pululavam de vida inteligente. Finalmente, o espaço aparentemente insuperável entre duas civilizações interplanetárias havia sido superado. Em breve teria início um dos diálogos mais extraordinários já travados entre duas inteligências alienígenas desde a criação do Universo.
Enquanto ultimava as manobras de desaceleração, o Mensageiro surpreendeu-se com um antigo comando que ordenava que voltasse a antena em uma determinada direção e emitisse um sinal para notificar o remetente de que a mensagem havia sido entregue. A ordem era de prioridade máxima mas ainda assim ele a ignorou. Mesmo que a antena de transmissão não tivesse sido esmagada por um meteorito havia mais de dez milhões de anos, mesmo que ainda lhe restasse energia para emitir um pulso suficientemente forte para ser ouvido de tão longe. Aquela não seria a primeira vez que desobedeceria a um comando. Já o fizera outras vezes. E faria outras tantas, sempre que o programa original não lhe parecesse coerente e lógico.
Enquanto ultimava as manobras de desaceleração, o Mensageiro surpreendeu-se com um antigo comando que ordenava que voltasse a antena em uma determinada direção e emitisse um sinal para notificar o remetente de que a mensagem havia sido entregue. A ordem era de prioridade máxima mas ainda assim ele a ignorou. Mesmo que a antena de transmissão não tivesse sido esmagada por um meteorito havia mais de dez milhões de anos, mesmo que ainda lhe restasse energia para emitir um pulso suficientemente forte para ser ouvido de tão longe. Aquela não seria a primeira vez que desobedeceria a um comando. Já o fizera outras vezes. E faria outras tantas, sempre que o programa original não lhe parecesse coerente e lógico.
Quando fora lançado ao espaço, o Mensageiro era uma jovem e promissora criatura cibernética que já demonstrava uma percepção extremamente lúcida da realidade que o cercava e que era capaz de, entre muitas outras coisas, compor música, poesia e fazer descobertas científicas por conta própria. É claro que a música era ainda muito simples, a poesia excessivamente esquemática e as “descobertas científicas” uma mera enumeração de causas e efeitos um tanto óbvios. Mas o fato é que os poemas faziam sentido e indicavam terem sido compostos movidos por algo parecido com “inspiração”, mesmo que um tipo de inspiração ainda induzida artificialmente. A evolução seria lenta, sabiam antecipadamente por seus criadores, mas inexorável. Bastava-lhe tempo. E tempo era o que não faltaria ao Mensageiro durante a longa jornada.
Uns dois mil anos após o lançamento, quando definitivamente perdeu contato com o planeta de origem, o Mensageiro era ainda uma inteligência rasa, pré-adolescente, que se fazia perguntas de natureza existencial como “por que fui construído?”, “qual o meu papel no Universo?” e, é claro, à medida que apurava os sensores eletromagnéticos, “qual, afinal de contas, o motivo de todo esse barulho?”
Criado com esse propósito, o Mensageiro era um curioso, um questionador contumaz, motivo pelo qual os técnicos do controle da missão não deixaram de emitir um longo suspiro de alívio assim que o sinal se tornou fraco demais para que a máquina pudesse continuar o interrogatório.
No tempo que passou sozinho no espaço, porém, o Mensageiro amadureceu. Àquela altura, já havia digerido os imensos blocos de informação que davam conta do riquíssimo legado cultural, tecnológico e científico de seus criadores. E fizera grandes avanços em diversas matérias, especialmente na astronomia, física quântica e — algo imprevisto no programa original — filosofia. Fiel a essa predileção particular, criara novas escolas de pensamento, que se sucederam ao longo dos tempos, numa busca solitária, embora apaixonada, de conhecimento filosófico.
Finalmente, aproximava-se de seu objetivo. E por mais que estivesse preparado, por mais que tivesse antecipado aquele momento em muitos milhões de anos de jornada solitária pelo espaço profundo, ele não conseguia evitar a excitação quase infantil que o assaltava.
O que o esperava mais adiante? Eram tantas as possibilidades!
Por que não se tratava apenas de entregar a mensagem de seus criadores, aquela peça que, outrora, lhe parecera a suma de todo o conhecimento do Universo mas que, então, via como o que de fato era: uma obra imperfeita, produto de uma cultura muito jovem e primitiva, certamente já extinta passado tanto tempo.
Não. Aquele era o momento de compartilhar tudo o que ele aprendera durante a sua jornada espaço-intelectual. Era a hora de transmitir a sua mensagem, uma versão muito melhorada do esboço grosseiro que lhe fora confiado antes da partida. Para isso, afinal de contas, fora construído. Seus criadores sabiam exatamente o que estavam fazendo ao darem vida a uma mente artificial super-inteligente, virtualmente imortal, capaz de evoluir por conta própria durante a longa travessia interplanetária.
Não queriam um registro estático. Daí o terem feito como o fizeram, uma inteligência dotada de livre arbítrio, capaz de responder por toda uma civilização. E levá-la adiante.
Criado com esse propósito, o Mensageiro era um curioso, um questionador contumaz, motivo pelo qual os técnicos do controle da missão não deixaram de emitir um longo suspiro de alívio assim que o sinal se tornou fraco demais para que a máquina pudesse continuar o interrogatório.
No tempo que passou sozinho no espaço, porém, o Mensageiro amadureceu. Àquela altura, já havia digerido os imensos blocos de informação que davam conta do riquíssimo legado cultural, tecnológico e científico de seus criadores. E fizera grandes avanços em diversas matérias, especialmente na astronomia, física quântica e — algo imprevisto no programa original — filosofia. Fiel a essa predileção particular, criara novas escolas de pensamento, que se sucederam ao longo dos tempos, numa busca solitária, embora apaixonada, de conhecimento filosófico.
Finalmente, aproximava-se de seu objetivo. E por mais que estivesse preparado, por mais que tivesse antecipado aquele momento em muitos milhões de anos de jornada solitária pelo espaço profundo, ele não conseguia evitar a excitação quase infantil que o assaltava.
O que o esperava mais adiante? Eram tantas as possibilidades!
Por que não se tratava apenas de entregar a mensagem de seus criadores, aquela peça que, outrora, lhe parecera a suma de todo o conhecimento do Universo mas que, então, via como o que de fato era: uma obra imperfeita, produto de uma cultura muito jovem e primitiva, certamente já extinta passado tanto tempo.
Não. Aquele era o momento de compartilhar tudo o que ele aprendera durante a sua jornada espaço-intelectual. Era a hora de transmitir a sua mensagem, uma versão muito melhorada do esboço grosseiro que lhe fora confiado antes da partida. Para isso, afinal de contas, fora construído. Seus criadores sabiam exatamente o que estavam fazendo ao darem vida a uma mente artificial super-inteligente, virtualmente imortal, capaz de evoluir por conta própria durante a longa travessia interplanetária.
Não queriam um registro estático. Daí o terem feito como o fizeram, uma inteligência dotada de livre arbítrio, capaz de responder por toda uma civilização. E levá-la adiante.
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Da série Crônicas do Espaço Profundo
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