segunda-feira, 23 de maio de 2011

Ora bolas...

Baseado em uma lenda urbana

ELE ESPERAVA O PEIXE enfiar a cabeça para fora da toca, câmara a postos, evitando respirar para que as borbulhas não espantassem o animal arisco, quando ouviu um estrondo grave, oco, cavo, e viu-se sugado para trás, envolvido num torvelinho de bolhas, algas conchas e corais despedaçados.
    Ainda rodopiava em meio à água turva, como um mosquito malferido ao ser sugado por um ralo, visibilidade nula tanta era a areia em suspensão à sua volta, quando ouviu outro estrondo — desta vez um ruído metálico, como o de uma escotilha se fechando — e as trevas completaram o cerco à sua volta.
   O susto do primeiro momento fora tão grande que ele chegou a urinar dentro da roupa de borracha. Agora, porém, tomava-o pavor mais consistente, menos histérico embora mais denso, infinitamente mais sério e ponderoso, à medida que nadava às cegas e ouvia ao fundo o inusitado zumbir de um inseto gigante.
   Nadava sempre adiante, ou numa direção que lhe parecia ser adiante, como se tentando fugir das trevas que o cercavam, quando subitamente chocou-se contra uma parede de metal e quebrou o vidro da máscara de mergulho.
    Ora bolas...
  Rapidamente, desvencilhou-se da máscara e, embora estivesse morrendo de medo, ainda teve sangue frio bastante para olhar em volta, analisar a própria situação e identificar um pequeno ponto de luz na direção para onde subiam as borbulhas. Olhos abertos, começou a subida, ansioso para meter a cabeça fora daquele pesadelo, quando novamente ouviu um ruído metálico, e novamente sentiu-se sugado para baixo, desta vez para ser inapelavelamente arremessado sobre as chamas do inferno. 
   
O guarda florestal que encontrou o corpo na manhã seguinte não conseguia acreditar no que estava vendo: um homem-rã semi-carbonizado, em meio a uma floresta devastada por um incêndio, a mais de vinte quilômetros do mar. Hummm... Demorou alguns segundos até ele finalmente se dar conta do que havia acontecido; e lamentar o azar do pobre mergulhador.
   De fato, os legistas foram categóricos ao afirmar que a vítima não morrera queimada e nem por asfixia, e sim pelas múltiplas lesões que sofrera ao ser despejada sobre a floresta em chamas, da caçamba de um avião-pipa do corpo de bombeiros do Estado da Califórnia.

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