quinta-feira, 19 de maio de 2011

O escritor invisível


DE VOLTA À TERRA APÓS ALGUNS milênios no espaço, e logo me deparo com essa discussão idiota se devemos ou não ensinar português errado nas escolas. Eu acho que não. Já que pretendem ensinar, que ensinem certo. Se quiserem aprender errado, que vão para a zona. Mas quem sou eu para opiniar? Minha faxineira Gerusa é quem sabe das coisas. E já anda até a escrever livros para o MEC. Imagino a aula: "Vamu lá criançada! é pra conjugá o verbo ir: Eu vô, cê vai, nóis vai...!"  E por aí afora. Primeiro as cotas raciais, a aprovação automática, o bullying, a chacina de Realengo, a reforma ortográfica... e agora isso. Como dizia meu falecido amigo Henrique Diniz, sujeito muito fino e recatado: "Arrebentou a chapeleta, meu caro!" Endosso e assino embaixo.
   De volta de minha viagem nas estrelas, fiquei eu cá muito lisonjeado ao descobrir que ontem, dia do último capítulo de minha pulp-fiction interplanetária, atingi a espantosa marca de mais de 120 acessos, o que quer dizer que meus cinco fiéis leitores andaram muito ocupados, cada um acessando a mesma página 24 vezes em um mesmo dia. Com leitores assim, quem precisa de um Nobel, um Jabuti, um Pulitzer? 
   Esse negócio de blog é mesmo uma invenção do caramba. Vivendo metido no meio do mato, sem telefone fixo, sem correio, sem coleta de lixo, sem vizinho, eu e minha mulher às vezes chegamos a acreditar que não existimos. "Benhê," diz ela às vezes, "sabe que eu estou tendo a impressão de que nós morremos e que tudo isso aqui é uma espécie de purgatório antes do Juízo?" Então eu a levo ao Rio, comemos um eisbein no Bar Brasil, damos um passeio no shopping e a impressão se desfaz por completo. Ao menos até a semana seguinte. "Benhê..." Saco. 
   Não fossem os blogs, confesso, eu também seria vítima de semelhante agonia. É claro que 120 acessos é uma merreca que o Paulo Coelho recebe enquanto mexe o café com a colherinha de prata. Ou o número de mensagens que uma jovem adolescente recebe no MSN entre um "Então..." e um amasso. Para mim porém, é como um cordão umbilical que me liga ao resto do mundo. É a minha confirmação de que há alguém do outro lado. 
   Senão, seria difícil acreditar que ainda estou nesse lado da cerca e acabaria cedendo à paranóia de minha digníssima esposa: "Eu vejo gente morta..." 
    Saco. 
   Vou tentar levá-la ao árabe do Largo do Machado para comer uma esfiha de carne e ver se desencana...

5 comentários:

Palavralida disse...

Já eu confesso que estou atrasadíssima nas suas leituras, meu amigo! AMEI SEU TEXTO, e te digo duas coisas:
1) Vocês REALMENTE moram no Paraíso, por isso a impressão. Estamos loucos de saudade dos nossos papos, nossa cerveja, nossos filmes (onde eu sempre acabava dormindo)... Pode ter certeza, meu amigo, na PRIMEIRA oportunidade, correremos pr'aí!
2) Quando forem ao árabe do Lgo do Machado nos avisem, aquilo é maravilhoso!
Beijo cheio cheio cheio de saudade!

Roberta Fraga disse...

kkk Muito bom. (o texto) Muito triste (a realidade).

Fhernanda Fernandes disse...

Só o conhecia de nome, embora conhecesse bastante, de tanto ouvir a Renata e o Júlio falarem bem de você.
Vim aqui conferir e adorei o que vi.
Agora você tem mais uma te seguindo.
Parabéns e sucesso.
Grande abraço.

Alexandre Raposo disse...

Obrigado Renata, Júlio, Glauco, Roberta, Fhernanda. Vou mostrar os comentários para ver se minha mulher se acalma. "Benhê, olha só: gente viva dessa vez!"

GALAUKO disse...

Sempre que visito seu blog me lembro de uma série, que meu adorava também, chamada "Para gostar de ler", então acho que isso explica tantas visitas. Sentimos falta dos bons textos, saídos fresquinhos. Somos afortunados mesmo.

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